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publicado dia 26 de fevereiro de 2018

Comunidades indígenas do Rio Uaupés cartografam sua região

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O Baixo Rio Uaupés é um dos principais afluentes do Rio Negro, na Amazônia. Em seu entorno, habitam 11 comunidades multiétnicas indígenas, oriundas tanto do Brasil quanto da Colômbia. Para esses grupos, os igarapés, leitos e lagoas formados pelos encontros de água, são solos sagrados: em sua mitologia, estas águas serpenteadas foram rotas de origem de uma cobra-canoa, que viajou do Lago do Leite até a cachoeira do Ipanoré carregando no ventre os ancestrais que povoariam toda a região.

Esses e outros saberes referentes aos baixos leitos do Uaupés e outras terras indígenas do Alto Rio Negro foram mapeados por pesquisadores indígenas por meio da iniciativa Cartô Brasil Socioambiental. Ao todo, 12 mapas foram criados em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) cartografando ocupações humanas, lugares sagrados e históricos, paisagens e pontos de manejo de peixes, floresta e caça.

petróglifos desenhos em pedras fotografados na cartografia
Um dos locais cartografados
é o sítio Itapinima, na região do Baixo Uaupés / Foto por Aline Scolfaro

Lançado em fevereiro de 2017, o do baixo Uapés está disponível para download na plataforma Cidades Educadoras e aborda a cosmologia da região. Todos os outros foram distribuídos nas comunidades para uso em escolas, associações e de lideranças indígenas, moradores e agentes de saúde.

Desde sua criação há mais de uma década, o Instituto Socioambiental utiliza a cartografia como ferramenta na luta pela garantia de direitos de povos tradicionais no Brasil. As Cartô Brasil Socioambiental se dividem em dois tipos: as convencionais, onde os pesquisadores mapeiam territórios escolhidos por meio de georreferenciamento, e também os mapeamentos participativos, que nascem de demandas das comunidades parceiras.

“A ideia de mapear as áreas de manejo das comunidades desse trecho do rio partiu das suas lideranças”, explica Aline Scolfaro, antropóloga do instituto. Como a região é muito próxima ao município São Gabriel das Cachoeiras (AM), as lideranças buscavam mecanismos para se defender de conflitos intercomunitários causados pelo desconhecimento a respeito das áreas tradicionalmente já delimitadas pelas populações locais.

Era também anseio das mesmas lideranças que a criação do mapa se convertesse um em projeto atraente para a juventude indígena. “A nova geração está começando a se desinteressar do conhecimentos dos territórios, das histórias dos lugares e antepassados e os limites de áreas de uso. O mapa vem fortalecer a transmissão de conhecimento geracional”, complementa Aline.

Comunidade Matapi cartografando em oficina de 2014 / Foto por Aline Scolfaro
Comunidade Matapi cartografando em oficina de 2014 / Foto por Aline Scolfaro

Cada comunidade deu sua contribuição iconográfica e estética para identificar características de seus territórios. No processo de sistematização, foi essencial a participação dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs). Os pesquisadores têm o papel de animadores em suas comunidades, cuidando tanto de boas práticas, como a coleta seletiva de lixo, até a articulação política. Geralmente jovens, eles unem  conhecimentos acadêmicos com os saberes tradicionais dos idosos dos grupos.

Leia +: ISA lança livro para crianças sobre povos indígenas do Brasil

Os mapas são um conteúdo especialmente sensível em um período no qual as comunidades do território do Alto Rio Negro discutem seu Plano de Gestão Territorial e Ambiental. Com previsão de conclusão em 2019, o documento é uma ferramenta estratégica na preservação das terras indígenas, que hoje perfazem 12,64% do território nacional.

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