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publicado dia 4 de outubro de 2018

Projeto faz retrato do rio São Francisco por meio das histórias dos moradores da região

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“Vocês conhecem algum Francisco ou Francisca?”. Entre 2007 e 2011, era com essa pergunta – no mínimo curiosa – que o jornalista Gustavo Nolasco e o fotógrafo Leo Drumond costumavam saudar os habitantes de municípios de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Eles então percorriam as margens do Rio São Francisco na tentativa de conhecê-lo sob um novo olhar: o dos moradores da região.

A busca pelos Chicos e Chicas locais tinha um porquê. Procuravam os rostos que personificavam a devoção ao rio. “Qual a coisa mais bonita que você pode fazer por alguém que você ama? Batizar seu filho com o nome dela. Então fomos atrás dos Franciscos e Franciscas daquelas terras, destas pessoas que tinham sido nomeadas em sua homenagem”, conta Gustavo.

Ao longo de 2,7 mil quilômetros de andanças, surgiam personagens tão vários quanto suas histórias de vida. O rio São Francisco, único e coeso, dava lugar a tantos outros conforme a identidade do território e a experiência de cada ribeirinho. Assim, nascia o nome do projeto, “Os Chicos”, evidenciando as múltiplas facetas e imaginários que se banhavam em suas águas.

rio são francisco
São múltiplas as facetas e imaginários que se banham no rio São Francisco.

Um rio de histórias

O próprio Gustavo tinha o seu ideário. Nascido em Mariana (MG), o escritor foi a vida inteira fascinado pelo São Francisco. Das incursões ao rio na infância e juventude, a memória mais colorida era das histórias que ouvia das comunidades ribeirinhas.

“Eu gostava de conversar com as pessoas. E dessas várias narrativas que me chegavam uma coisa me chamava a atenção: a gente aprendia na escola que o Chico era o rio da integração nacional, como se fosse uma coisa só. Mas o que eu via ali eram diversos nomes, pessoas, geografias e culturas de acordo com a região. E me agonizava o Brasil não ter esse olhar para o interior”, conta.

Do incômodo o projeto foi germinando. Gustavo queria mostrar para as pessoas não somente que a paisagem do rio São Francisco ia mudando em sua viagem rumo ao mar, mas, sobretudo, que o rio só ganhava sentido a partir das narrativas e vivências de seus moradores. “A partir do momento que um morador conta sua história de vida, ele conta também um pedaço da história daquele local onde vive, por mais que não perceba. E são essas histórias que mais interessam.”

Para além da diversidade cultural, das manifestações folclóricas e rituais envolvendo o Velho Chico, outro ponto também se revelava ao longo de seu percurso: a desigualdade social. “De onde o rio nasce em Minas, na Serra da Canastra, até o final do estado – que já é sertão – é muito diferente o perfil socioeconômico que se encontra. Na porção nordestina, em muitos locais, a relação é de sobrevivência. Como mineiro, me envergonha ver que um rio tão essencial para o Nordeste está morrendo porque o estamos poluindo e destruindo. Belo Horizonte é hoje a maior poluidora do rio São Francisco”, lamenta.

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O rio só ganha sentido a partir das narrativas e vivências de seus moradores.

Os Chicos, prosa e fotografia

Depois de cinco anos de coleta de histórias, o projeto foi finalmente lançado em livro em 2012. “Os Chicos – Prosa e Fotografia” foi agraciado com o Prêmio Jabuti 2012 na categoria Fotografia e, no primeiro semestre deste ano, ganhou uma segunda versão.

Com o dinheiro da venda, Gustavo e Leo foram capazes de arcar com uma viagem de volta aos locais visitados para uma grande festa e rememorar as tantas narrativas compartilhadas com eles – um processo que de início, lembra, foi recebido com certa desconfiança.

Rio são francisco
Além da diversidade cultural, outro ponto também se revelava ao longo de seu percurso: a desigualdade social

“Chegavam dois caras em uma cidade perguntando se tinha Francisco e Francisca e ninguém entendia nada. Na medida em que íamos explicando o projeto, no entanto, as pessoas se encantavam. Aí choviam sugestões”.

Talvez o momento mais emblemático tenha sido em Bom Jesus da Lapa, no interior da Bahia. “Até o padre da cidade se envolveu. No meio da missa ele aproveitou para perguntar aos presentes se haviam ali Franciscos e Franciscas e que eles deveriam nos procurar. Imagina a comoção”, lembra o escritor, divertindo-se.

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