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publicado dia 11 de dezembro de 2018

Espaço no Grajaú valoriza cultura negra nos cortes de cabelo

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*Matéria originalmente publicada na Agência Mural e no Blog Mural. A autoria é de Ana Beatriz Felicio e Wallace Leray. 

Com um turbante colorido e brincos de argola, a educadora Mariana Rosa, 23, parece fazer parte do visual do Espaço Boom Box, salão de cabeleireiro no Grajaú, extremo sul de São Paulo. O estabelecimento exibe na parede recortes de jornal, revistas e quadros que reverenciam a cultura negra e periférica. Ao fundo, uma playlist traz músicas do rap ao samba-rock.

“A gente é negro. Termos um espaço voltado para cultura negra e periférica é também auto-afirmação”, diz Mariana co-fundadora do espaço.

O Boom Box nasceu há um ano e três meses, quando ela e o namorado, o estudante Emanuel Levi Silva, 20, decidiram se arriscar em abrir um negócio que tivesse relação com o que acreditam.

O casal fundou o salão juntamente com Sara Leidiane Alencar, 28, especialista em fazer tranças. Hoje, contam com mais um integrante, Diogo Emanuel da Silva, 24, responsável por administrar as redes sociais e o setor financeiro do local.

Antes de fundarem o Boom Box, Mariana e Levi fizeram cursos na área capilar e sobre empreendedorismo. Assumiram os riscos de aprender na prática e as exigências de se empreender na periferia.

Os serviços oferecidos pelo Boom Box abrangem barbearia, estética capilar e tranças, com preços que podem variar de R$ 15,00 em um corte simples, até R$260,00 em tranças estilo box braids. A única química aplicada é a tintura. Os donos optaram por não oferecer alisamentos ou relaxamentos – consideram que devem manter o estilo de cada tipo de cabelo.

Dentre as maiores dificuldades em empreender na periferia e com um negócio voltado a estética negra, Mariana destaca a necessidade constante de aperfeiçoamento.

os jovens mariana e emanuel são os donos do boom box
Marina e Emanuel montaram o Boom Box no Grajaú / Crédito: Wallace Leray/Folhapress

“Temos que aprender sobre tudo, então estou sempre estudando sobre a minha profissão [cabeleireira], sobre autonomia e sobre empreendedorismo”.

A relação com a periferia e com questões ligadas ao cabelo afro chama atenção dos clientes do Boom Box. O economista Aquiles Coelho Silva, 23, fez tranças no cabelo. Ele só assumiu o cabelo comprido quando entrou na faculdade.

“Quando era moleque, até tentei deixar o cabelo crescer, o que foi bem traumatizante na época, então sempre mantive o cabelo curto até o ensino superior”, conta.

“Estudei no interior e quando voltei para cá [Grajaú], não fui em salão nenhum até minha amiga me indicar o Boom Box, porque queria ir em algum lugar que, além do serviço, passasse uma ideia bacana”.

Já o designer Chris Dias, 22, conta que ser negro e assumir o cabelo como é, vai bem além de razões estéticas. “É um bagulho de construção social. É um processo aceitar o cabelo. Eu já passei por todo esse processo, hoje não me vejo sem ele”.

levi fazendo desenhos no cabelo
Levi fazendo desenhos no cabelo de Chris / Crédito: Wallace Leray/Agência Mural/Folhapress

Além da rotina no salão, os quatro sócios também fazem ações voluntárias de redução de danos, com a ONG Projeto Redenção, na cracolândia, no centro de São Paulo, oferecendo cortes de cabelo e barba de pessoas em situação de rua na região.

Dona Agostinha, mãe da Mariana, trabalha no local e ajudou a filha e os amigos a desenvolverem o projeto.

A ideia agora é expandir o negócio e, além de novas unidades em diferentes periferias, levar a sede da Boom Box para um local mais amplo, na qual possa funcionar também um coworking (espaço coletivo de trabalho para outros grupos da região).

“A nossa ideia mesmo é que o salão se torne um espaço de verdade, que a gente consiga agregar outras coisas”, explica Mariana. “Seria numa casa, onde a gente pudesse vender produtos que a periferia produz, voltado à economia solidária”.

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