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publicado dia 19 de dezembro de 2018

Museu territorial transforma bairro Perus em um território educativo

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Perus é um bairro da zona norte da cidade de São Paulo cuja topografia se reveza entre remanescentes de Mata Atlântica, centros urbanos e comunidades tradicionais. A região condensa em seus 23 quilômetros patrimônios históricos e ambientais que contam muito sobre a história do Brasil:  foi ponto de parada de tropeiros, lar resistente de indígenas guaranis e também palco da mais longa greve de operários da história, na primeira fábrica de cimento do país.

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“Existe até a máxima: Perus, bairro que construiu o Brasil”, relembra Cleiton Ferreira de Souza, mais conhecido como Fofão. Morador e ativista do bairro, ele é um dos gestores da Comunidade Cultural Quilombaque, centro que há 13 anos usa a arte e cultura social como ferramentas de militância no território, comumente conhecido como um dos mais aguerridos nas lutas sociais da capital.

Além de servir como ponto de referência cultural, a Quilombaque tem como missão fazer com que a comunidade local enxergue e frequente os espaços da região. Como explica José Soró, um dos fundadores da comunidade: “A maior luta é para que as pessoas consigam reconhecer elementos de valor na sua história, as potencialidades do próprio território.”

A criação dos Territórios de Interesse da Cultura e da Paisagem (TICP), que se deu na aprovação do Plano Diretor da Cidade, em 2014, possibilitou que os já tão articulados moradores e ativistas locais começassem a desenhar a ideia de um museu de território, que conectasse os diversos pontos de cultura da região. Nascia assim o Museu Territorial de Interesse da Cultura e da Paisagem TEKOA JOPO’Í, batizado em homenagem aos guaranis.

visita por espaços públicos
Visitação na trilha de ressignificação de espaços públicos / Crédito: Facebook da Quilombaque

O museu territorial e as trilhas de aprendizagem

O museu territorial tem uma vocação diferente do convencional, que se apoia geralmente no trinômio espaço-museu-obra. É na comunidade, no patrimônio e no território, entendendo este último em sua plena intencionalidade educadora, que ele se dá. O TEKOA JOPO’Í conta com uma malha diversa de espaços: a Fábrica de Cimento; as aldeias guarani; o Pico do Jaguará; valas comuns do cemitério de Dom Bosco; além de espaços culturais como a própria Quilombaque e a Casa Hip Hop Perus.

“Perus é uma sala de aula, um museu aberto. Quando alguém visita esses equipamentos, aprende não no padrão da escola, na lousa, mas sim onde aconteceram momentos importantes do bairro e do país”, complementa Fofão.

“Perus é uma sala de aula, um museu aberto. Quando alguém visita esses equipamentos, aprende não no padrão da escola, na lousa, mas sim onde aconteceram momentos importantes do bairro e do país”.

A primeira fábrica de cimento do Brasil escoava não somente para a capital paulista, mas também para outras cidades brasileiras, como Brasília. De 1962 a 1967, os operários entraram na mais longa greve registrada, reivindicando pagamento de salários atrasados, reajustes e cumprimento de acordos coletivos. A eles, deu-se o nome de Queixadas, mamíferos com práticas coletivas de defesa.

Mapear o território com este olhar só foi possível graças à articulação local. Os moradores e lideranças de movimentos sociais se debruçaram sobre a região, em um processo sempre atravessado pela luta como a praticada pela comunidade indígena guarani ou a Comuna da Terra Irmã Alberta – MST.

Os pontos de visitação do Museu Territorial são interligados por 6 trilhas de aprendizagem, como explica Soró: “Elas cumprem o papel de tecer e tramar  diversos polos patrimoniais de Perus. As trilhas interligam e, às vezes, cruzam todos os elementos a partir de referenciais afetivos, históricos e também fundamentais, como a questão da área verde, que embora não seja tombada, tem toda a sua importância.”

As trilhas são: Trilha Ditadura Nunca Mais, que fala sobre a vala clandestina no Cemitério Dom Bosco; a Trilha de Reapropriação e Ressignificação de Espaços Públicos; a Trilha Perus Feira Graffiti – Galeria de Arte de Rua; a Trilha O Jaraguá é Guarani; a Trilha Agroecologia Campo e Cidade MST; e a Trilha Ferrovia Perus – Pirapora.

cortejo em perus
Cortejo de maracatu no Ato Artístico Cimento Perus. / Crédito: Jéssica Moreira

Agência Queixadas e turismo local

A estruturação das trilhas e o entendimento sobre quem deveria conduzi-las culminou na criação da Queixadas Agência de Desenvolvimento Eco Cultural e Turístico, uma agência dedicada a articular as condições para um turismo em benefício dos locais, estabelecendo formação de guias e uma rede de hospedagem nas casas dos próprios moradores da região.

“A trilha é uma proposta de desenvolver geração de trabalho e renda para lideranças e movimentos. Aí a gente mexe na economia local, invertendo a lógica do desenvolvimento, que hoje é baseado no valor da terra, para o meio ambiente, cultura e o ser humano enquanto vetores de desenvolvimento social”, explica Soró.

Em 2018, A Agência e o Museu Territorial testaram sua capacidade de articulação com dois eventos de peso: em agosto, eles receberam estudantes de diversos países no projeto Fieldschool, parte do Congresso Mundial de Lazer. Em dezembro, foi a vez de receber a Universidade de Breda, da Holanda, além da UFSCAR e do Assentamento Fazenda Ipanema. Além das trilhas, os visitantes foram convidados a conhecer eventos culturais, como as tradicionais rodas de jongo.

“Trabalhamos a nossa memória, a nossa luta, e fazemos lucro com isso, gerando recurso para outras pessoas. No caso das hospedagens, por exemplo, tanto a família que recebe quanto a família que vem gera uma troca de conhecimento. Às vezes, são pessoas de dois ou mais países interagindo com a seu. É uma questão de valor real e afetivo”, finaliza Fofão.

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