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publicado dia 11 de fevereiro de 2020

Os atuais desafios para promover a educação antirracista nas escolas

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“O silenciamento do racismo no ambiente escolar foi ampliado nos últimos anos”, afirma Ednéia Gonçalves, diretora executiva adjunta da Ação Educativa.

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Em entrevista ao Centro de Referências em Educação Integral, ela analisou as recentes mudanças na conjuntura social e política e os mecanismos que têm minado a construção de uma educação antirracista nas escolas e os avanços conquistados na última década.

A especialista também traz perspectivas sobre como reverter esse cenário, garantir direitos e o cumprimento da lei nº. 10.639, que inclui obrigatoriamente no currículo da rede de ensino a história e cultura afro-brasileira e indígena.

Quais são os desafios que vivemos hoje para combater o racismo nas escolas?

A forma como as pessoas têm tratado a necessidade da discussão do racismo institucional e estrutural tem passado por uma mudança grande nas escolas. O silenciamento do racismo no ambiente escolar foi ampliado nos últimos anos, e os campos que pensávamos estarem mais protegidos têm sido motivo de violências tremendas, tanto contra estudantes quanto professores.

E isso tem acontecido porque quando começa a se construir a percepção de que ser racista também é uma das possibilidades da liberdade de expressão, a violência se amplia, se torna mais escancarada, sobretudo na escola, onde já há um racismo institucional.

“Começa a se construir a percepção de que ser racista também é uma das possibilidades da liberdade de expressão”.

Para além disso tudo, antes a gente conseguia pelo menos construir um horror à discriminação, e essa noção está ficando bem mais alargada.

Como essa ampliação do racismo têm se manifestado nas escolas?

O silenciamento tem ficado muito mais perceptível por parte da gestão escolar e das redes, totalmente ligado ao mito da democracia racial. A negação total do racismo está virando mote.

Outro aspecto que começamos a ver é o material didático passar por um revisionismo perigoso, e um recrudescimento de uma discussão que estava começando a gerar coisas interessantes, a partir da lei nº. 10.639, que estava sendo o chão para trazer esses debates.

Além disso, vemos violências contra crianças, jovens e famílias a quem estão sendo negadas o direito de assumir a sua religiosidade de matriz africana, de usar os sinais de seus ritos e crenças.

E quais são os mecanismos que têm operado contra a educação antirracista?

Esse silenciamento e ampliação do racismo passa por um discurso construído a partir do Escola Sem Partido, que deu uma argumentação, um campo teórico, conceitual, para justificar o racismo.

Mas também pela relação com o território: as escolas estão cada vez mais fechadas, têm dialogado menos com os movimentos sociais, com as organizações do entorno. Isso faz com que a escola, apartada do movimento social negro, aprenda menos sobre as estratégias de luta antirracista, ficando mais distante da educação antirracista.

A criminalização dos movimentos sociais também repercute nesse distanciamento das escolas, que vão

As escolas também tem absorvido o aumento da criminalização dos movimentos sociais, o que causa distanciamento.

Quais são os caminhos para reverter essa situação?

Todos os avanços que conseguimos até hoje, no enfrentamento ao racismo, foi a partir do movimento negro. O protagonismo é do movimento negro, e as escolas precisam se abrir para ele.

Também temos que trazer a comunidade escolar para discutir quanto a escola tem conseguido atender as reais necessidades de aprendizagem da população, escutar o território, trazer a vida real das pessoas para dentro da escola.

E reforçar que a lei nº. 10.639 não é um adendo, a LDB [Lei de Diretrizes e Bases] foi alterada, e existe uma legislação que protege os avanços desde 2003, e isso precisa de um monitoramento sério.

Mas nós temos todas as possibilidades de construir uma educação antirracista e equitativa a partir do muito que já construímos, e o tanto de expectativa que o sujeito tem colocado na educação.

“Temos todas as possibilidades de construir uma educação antirracista e equitativa a partir do muito que já construímos”.

A educação tem sido espaço de resistência importante em todos os níveis, porque avançamos muito no conhecimento e na aprendizagem. Nas escolas, o enfrentamento ao racismo e construção da educação antirracista tem passado pela juventude negra. Ela foi formada, reexiste a partir do movimento negro.

Agora, mais do que nunca, o movimento tem tido papel essencial na formação para resistência, para a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Esses são os nossos pontos de partida.

 

*Matéria publicada originalmente no Centro de Referências em Educação Integral.  A foto de capa é de autoria de Léu Britto, do DiCampana Foto Coletivo.

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