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publicado dia 27 de maio de 2020

Projeto espanhol reúne auto entrevistas de crianças durante a quarentena

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Nur, de 6 anos, tem fortes opiniões sobre o isolamento social. Confinada em um apartamento em Sevilha (Espanha) com sua família, ela expressa um misto de desgosto e compreensão com as medidas adotadas para mitigar a pandemia de Covid-19 (novo coronavírus). 

“[O confinamento] é para se proteger, pois se o vírus pousa em você, você morre. Temos que usar sempre máscara e luvas. Mas não gosto de não poder sair, de não pode ver coisas. Anularam meus planos e me fizeram ter muitas ilusões.”

Estas e outras reflexões fazem parte do projeto espanhol Me pregunto: Autoentrevistas desde el confinamento (Em português Me Pergunto: Auto entrevistas no confinamento), alojado na plataforma sobre infâncias Wonder Ponder, da escritora Ellen Duthie.

Crianças de todas as idades e de várias partes do mundo são convidadas a se auto entrevistar ou a entrevistar umas às outras durante a quarentena. 

“O espírito por trás deste convite é que pessoas de cinco a dezoito anos que se sintam abertas a pensar sobre o momento em que estamos vivendo e compartilhem sentimentos, medos ou apreciações que podem não vir à tona se não nos sentarmos juntos e abordamos o assunto. É um convite para escutar com cuidado estas vozes”, explica Ellen. 

Como funciona a auto entrevista

A ideia do projeto surgiu na casa de Ellen. Seu filho de 11 anos tinha que fazer um projeto sobre a pandemia para a escola. Ele começou a se auto entrevistar, e Ellen viu como no processo o menino vocalizou sentimentos parecidos com os delas. 

“É curioso que nesta situação concreta o desconhecimento e a incerteza são elementos que nos unem, nos afetam, inclusive aos especialistas. E neste momento que nos enche de dúvidas, grandes ou pequenas, é imprescindível estabelecer um diálogo permanente e abrir a possibilidade de expressar todo tipo de perguntas, de temores ou de apreciação do que estamos vivendo.” 

Embora a escritora sugira que crianças entrevistem a si mesmas, dando vazão a qualquer pergunta ou resposta que quiserem, ela também disponibiliza no site dicas que podem ajudá-las neste percurso. Se as crianças tiverem dificuldade de se auto entrevistar, Ellen encoraja que ela entrevistem umas a outras ou peçam ajuda aos seus pais, mas mantendo a autonomia. 

“O projeto nasce com o intuito de não só visibilizar a voz de pessoas de cinco a dezoito anos, mas também aprofundar o pensamento sobre esta voz. Chegaram áudios gravados, outras escritos, desenhos e uma grande variedade de mídias.” 

A importância da voz da crianças para além da imaginação 

A irmã de Nur, Zoe, tem dez anos. Para ela parece inconcebível que durante um período como a quarentena seus deveres escolares tenham aumentado. 

“Por que tiraram meus direitos mas não meus deveres?”, ela se pergunta indignada, sem saber fazendo eco ao pensador italiano Francesco Tonucci, que sempre defendeu uma escola que escute as crianças, ainda mais em tempos de crise e ruptura como o da pandemia. 

Para Ellen, as falas de Zoe e de tantas outras crianças informam sobre a importância de ouvir as crianças não apenas por seus apontamentos lúdicos, mas porque para além da imaginação, elas têm aportes sobre o cotidiano e sobre a vida muito inteligentes, como qualquer cidadão. 

“Os pensamentos das crianças podem nos ajudar durante a quarentena. Com a nossa liberdade física cerceada, a capacidade deles de pensar fora dos limites da lógica, de pensar mundos paralelos e futuros possíveis é muito útil. Isso não tem só a ver com fantasia, mas com realidade. Este pensamentos podem nos ajudar a lidar com as sequelas da crise sanitária, econômica e social.”

wonder ponder
Dicas de perguntas para as crianças / Crédito: Wonder Ponder

Perguntas e temas disparadores para as crianças 

Ellen sistematizou algumas perguntas e temas que podem ajudar as crianças a se autoentrevistar. Eles estão disponíveis em inglês, espanhol e alemão na plataforma do Wonder Ponder:

Sobre o vírus: Que é coronavírus? / Por que foi tomada a decisão de confinamento?
A vida cotidiana confinada: Como é um dia confinado? Como se repartem as tarefas de casa?
A liberdade: Você se sente livre? / Que coisas te fazem sentir-se mais livre durante o confinamento? / Em que sentido sua liberdade mudou de meses para cá, e no que permaneceu igual?
Aprendizagem: Você acredita que aprende algo com esta situação?
Experiência da escola dentro de casa: Como é a experiência de continuar a escola dentro de casa? / No que sua escola acertou e como ela pode melhorar?

Temas: Convivência; liberdade; direitos; exercícios físicos; vida/morte; direitos das crianças; escolas; responsabilidade; direitos dos idosos; medos; brincadeiras; individual e coletivo.

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