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publicado dia 24 de junho de 2020

Como praticar a educação antirracista

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Ao lado da família, a escola é o principal espaço de socialização da criança. É ali que ela se depara com o outro, relaciona-se com a diversidade e passa a aprender valores éticos e morais, construindo sua identidade. Daí a importância que a escola não somente aborde o racismo, mas que seja um espaço de sua desconstrução sistêmica, bem como da presença das narrativas negras com toda sua potência.

Em outras palavras, é preciso praticar uma educação antirracista, o que significa que esta dimensão deve perpassar currículo, formação docente, ambiente, gestão e metodologia. “Ser antirracista é muito mais do que não ser racista. Quando a gente fala de educação antirracista, não estamos falando só de coibir falas e ações preconceituosas, mas da premissa da valorização da identidade africana, afro-brasileira e indígena na escola”, aponta Jussara Santos, do Núcleo de Educação Étnico-Racial da Secretaria Municipal de São Paulo.

A legislação endossa esta postura. Em vigor desde 2003, a Lei 10.639/03, que preconiza o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares de todo o País, faz com que esta abordagem não seja uma escolha, mas um dever. Porém, na prática o que se vê é a lei ser evocada de modo circunstancial em datas e projetos.

Para Jussara, é urgente fazer esta mudança de paradigma. “A educação antirracista acontece de janeiro a dezembro, por meio de todas as disciplinas e espaços da escola”. Além disso, ela deve ultrapassar a perspectiva de que é preciso “proteger” o indivíduo oprimido para a ideia de que é preciso emancipar este sujeito, que tem história, cultura e voz.  “O olhar racista sobre as crianças negras é muitas vezes de tutela, da falta, e não da potência e do protagonismo”, critica Jussara.

Nesta perspectiva, Solange Miranda, professora na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Nelson Mandela, em São Paulo, destaca a importância de observar as mensagens que o próprio ambiente passa. “Os educadores devem observar qual é a estética que permeia o espaço da escola. Como as pessoas são representadas nos murais, livros e brinquedos? Esta estética não pode estar dentro da lógica da branquitude. É preciso trazer o repertório de diferentes tipos de pele, cabelo, de belo”, apontou na live Vivências Antirracistas, ocorrida nesta quinta (18).

Uma escola erguida por mulheres negras

Esta valorização está no cerne do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola Comunitária Luiza Mahin, em Salvador (BA). Batizada em homenagem à líder da Revolta dos Malês, levante de escravos que aconteceu na capital baiana no século XIX, a escola foi erguida a partir do esforço de mulheres negras que moravam em um conjunto habitacional da região – localizada na periferia da cidade – e que se mobilizaram para a construção da escola.

A instituição trabalha com a Educação Infantil a partir de uma metodologia alicerçada em três eixos: gênero, raça e pertencimento. O espaço da escola traduz, inclusive, essa concepção: as paredes são pintadas com cores que remetem ao continente africano, decoradas com máscaras e outros artefatos tradicionais, e cada sala homenageia no nome uma mulher negra que fez história.

Outra cuidado está na formação de professores. “Quando chega um novo educador, o esforço é para que ele conheça a realidade dessas crianças e suas famílias. Além disso, fazemos o resgate da sua identidade. Entendemos que este educador se tornará uma referência para estas crianças e que, por isso, também precisa sentir sua identidade valorizada”, conta a diretora Luciene Trindade.

Educação antirracista: autorreflexão necessária

O processo de formação continuada foi também um estalo para a Escola Municipal de Educação Infantil Jardim Ideal, localizada na região do Grajaú, em São Paulo (SP). Ao debater direitos humanos e desigualdades, a equipe docente constatou a imprescindibilidade de se posicionar diante da onda dos protestos antirracistas acontecendo no Brasil e no mundo. “Vimos que precisávamos sair do lugar da indignação para o lugar da ação”, conta a coordenadora pedagógica Janaína Martins.

Com a participação de ativistas do movimento negro, a equipe pedagógica elaborou o conteúdo “Para uma educação antirracista“, reunindo 16 dicas para a reflexão e ação antirracista. Janaína explica que a pretensão não foi construir um manual, mas convocar famílias, educadores e a sociedade de forma geral a repensar práticas. O próprio processo de elaboração do material disparou uma autorreflexão entre os educadores.

“Refletimos a importância de não superficializar o debate da representatividade, pois não basta ser negro e estar em espaço de poder. Essas referências podem sim ser Mandela, Ângela Davis, mas também precisam ser os líderes comunitários, as poetas da comunidade”, conta.

Para Jussara, este é o caminho para a construção de uma educação antirracista: primeiramente, admitirmos que a sociedade é estruturalmente racista e que, por isso, o racismo nos toca enquanto indivíduos e precisamos despi-lo. “Aí entra a importância da formação continuada do corpo docente. Primeiro, precisamos reconhecer para então podermos aprender”.

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