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publicado dia 29 de julho de 2020

CAPSArtes: a arte como prática educativa e de valorização do território

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O CAPSArtes está sempre em roda. Localizado no Grajaú, bairro da zona sul de São Paulo, o Centro de Arte e Promoção Social usa a roda para criar momentos de aprendizagem coletiva, onde criar poesia ou falar sobre filosofia depende da alteridade e do encontro com o outro. 

“São as Rodas de Construção de Conhecimento”, conta Israel Francisco dos Santos, presidente do centro. “Durante duas horas, fazemos círculos sobre filosofia, educação e arte. Há um mediador, mas ele não está acima de ninguém na roda, é só para facilitar. Para participar, é só chegar.”

A defesa da arte como princípio decisivo em processos educativos constitui o CAPSArtes desde sua fundação, em 1990. Sonhado e fundado pela filósofa e poeta Maria Vilani e um coletivo de entusiastas da educação, o centro constrói aprendizados coletivos a partir das demandas do território – que por si só é potente, com nomes como o grafiteiro Niggaz e o rapper Criolo. 

No meio da pandemia e tendo transferido suas rodas para o ambiente virtual, o CAPSArtes está em campanha de financiamento coletivo para custear sua sede física. O plano de assinatura cobre os gastos mensais da estrutura e permite a liberdade de funcionamento do centro, como explana Ale Silveira, responsável pela comunicação e do Selo Capsiano.  

“Desde sua fundação, o CAPS quis manter uma independência física e jurídica, entendendo quão marginalizadas as pessoas da periferia são e quanto é importante se organizar. A ideia do financiamento é para que sejamos sempre livres, um espaço de acolhimento onde possamos exercitar essa liberdade e sonhar juntos.”

roda de arte no caps
A maior parte dos encontros no CAPSArtes é assim: em roda, com todo mundo prestando atenção na fala do outro / Crédito: Divulgação

De mulheres artesãs até artesãos da palavra: a história do CAPSArtes

Era o fim dos anos 1980. Como muitos territórios vulneráveis o Grajaú carecia de infraestruturas básicas de educação, o que significava que muitas mães não tinham com quem deixar seu filhos quando trabalhavam. Na rua Irina Milchev Starbolov, Maria Vilani começou um trabalho coletivo de acolhimento de crianças pequenas e de convívio com suas mães. 

A relação estabelecida entre estas mulheres revelou uma potência: muitas delas eram hábeis artesãs, mas não tinham ideia de como expor seu trabalho. Surgiu então a Primeira Feira de Artesanato do Grajaú. Nela se reuniram não só as mulheres, como também uma leva de poetas, escritores, cozinheiros e outros fazedores de saberes do território. 

O sucesso do encontro deu origem ao CAPSArtes, em 1990. “O CAPS enquanto centro de arte e promoção tem a filosofia de promover o ser humano por meio da arte. Embora no Brasil exista uma carência econômica, a Vilani percebe que por meio da arte este preenchimento, essa doação espiritual, também é um caminho para se atingir a promoção social, a paz e direitos humanos”, relembra Israel. 

É no próximo ano que surge a Carreata Poética, uma das ações mais longevas do centro: Inspirada nas carreatas políticas, que causavam comoção nas ruas do bairro, o CAPSArtes cria uma versão poética, onde escritores param em diversos pontos do território para declamar poesia e apresentar espetáculos teatrais ou circenses. 

carreata poética no centro de são paulo
A Carreata Poética percorre o Grajaú e outros espaços da cidade levando poesia e outras formas de arte / Crédito: Divulgaçãoi

Depois de 30 anos, o CAPSArtes ainda se baliza pelos mesmos princípios que o tornaram possível. Hoje um núcleo transdisciplinar de pesquisa, formado por profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, realiza voluntariamente dentro do CAPS e em algumas itinerâncias ocasionais as Rodas de Construção do Conhecimento, Ateliê da Escrita e outros cursos. Há também o Núcleo MOCAP – Movimento Pela Cidadania Artística da periferia trabalha pela promoção de expressões de arte no território, como a própria Carreata. 

“O CAPS tem uma filosofia que difere um pouco de outros espaços. Ele não visa demanda. Nossas atividades são sempre fornecidas, não importa se duas ou 80 pessoas estiverem em roda. Nem sempre as pessoas têm interesse em temas como filosofia, mas mesmo assim, não desistimos. Ouvimos o que as pessoas querem, e assim, elas reconhecem a importância desse lugar”, arremata Israel. 

Literatura como ferramenta de valorização do território

A literatura tem um papel importante nos processos do CAPSArtes. Há um sólido conjunto de poetas e escritores que participam de atividades como a Roda de Poesia do CAPS. Sua constância e participação na Carreata Poética desdobrou-se para outros projetos dentro do centro, como explica Ale: 

“Em 2016 a gente recebe uma verba para edição de livros. Havia muitos escritores e uma demanda para incentivar mesmo as pessoas a escreverem e a ler. Então junto com a verba, criamos o Ateliê da Escrita e o Selo Capsiano”. 

No Ateliê de Escrita, a proposta é uma imersão dos participantes na escrita de crônicas a respeito de seu cotidiano e dos desafios e potências do seu território. Já o Selo Capsiano é uma “editora-escola”, publicando livros de autores locais a partir de uma construção conjunta que passa por criação literária, revisão e produção gráfica. 

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