Perfil no Facebook Perfil no Instagram Perfil no Twitter Perfil no Youtube

publicado dia 2 de maio de 2012

Reflexões sobre o educar para sociedades sustentáveis

As mudanças propostas pela ONU nas últimas décadas podem ser consideradas verdadeiras revoluções no modo de pensar e agir da sociedade, e não é à toa que muitas delas, apesar de hoje serem consideradas urgentes, demorarão a se concretizar.

[stextbox id=”custom” float=”true” align=”right” width=”250″]O espaço “Coluna Livre” publica artigos de opinião produzidos por leitores do Portal Aprendiz. O texto “Reflexões sobre o educar para sociedades sustentáveis” é de autoria de Edson Grandisoli, pós-graduado em Ecologia pela Universidade de São Paulo, Coordenador Pedagógico da Escola da Amazônia e Consultor em Educação para a Sustentabilidade.[/stextbox]

Em todos os documentos oficiais – em especial a partir do final da década de 1960 -, a Educação tem recebido papel de destaque como uma das principais forças de transformação rumo à construção da chamada “sociedade sustentável”. Apesar disso, as mudanças nessa área têm sido poucas, tímidas e insuficientes.

Da mesma forma que criar modelos alternativos de economia tem sido um dos grandes desafios na busca por um mundo melhor e mais equitativo, a concepção e instalação de novos modelos de Educação parecem possuir o mesmo nível de complexidade.

Universalização não garantiu qualidade ao ensino brasileiro.

Apesar de lentas, a Educação tem passado por mudanças significativas de escopo e metodologias, partindo de uma visão elitista e  utilitarista – em especial nos séculos 17 e 18 – para uma contemporânea mais abrangente, na qual o acesso universal à Educação visa garantir a redução das desigualdades, o desenvolvimento sustentável, a paz e a democracia; proposta conhecida como “Educação para todos (EPT)1”.

As metas da UNESCO nesse documento são vitais e, apesar de o Brasil já possuir a esmagadora maioria dos jovens matriculados no Ensino Fundamental I e II, não houve o mesmo progresso com relação à qualidade do ensino. A qualidade não acompanhou a quantidade. Sendo assim, hoje temos nossos jovens na escola recebendo um ensino deficitário, o que é comprovado todos os anos pelos principais índices oficiais.

O Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 20102, mostra que o índice de repetência no Ensino Fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica muito acima da média mundial (2,9%). Além disso, 13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino básico.

Em um curso que recentemente tive o privilégio de participar na UMAPAZ, Angélica Berenice de Almeida, uma das professoras e organizadoras, afirmou que “todos temos a tendência de repetir os modelos com os quais fomos educados”. Considerando que a maioria das pessoas tem recebido uma formação de baixíssima qualidade, que futuros educadores podemos esperar para formar nossos filhos e netos em direção à uma sociedade mais sustentável?

Novos olhares

Tenho tido contato nos últimos anos com diferentes professores de diferentes disciplinas, em especial em São Paulo e na Amazônia Mato-Grossense. As queixas sobre nosso sistema de ensino atual são recorrentes e têm geralmente relação com a estrutura da escola, salário e grau de interesse dos alunos, que reflete claramente a desconexão entre a escola e o mundo real. Tais queixas, entretanto, raramente geram mobilização ou ação e a consequência disso é a perpetuação de um sistema ineficiente, desumano e impessoal.

Para além dos problemas estruturais e financeiros, é urgente a necessidade de se repensar o currículo do ensino básico, criando-se estratégias efetivas de ensino  e preparando nossos educadores para que trabalhem de forma integrada e articulada, valorizando a complexidade encontrada no mundo real.

A nova versão do zero draft para a Rio+20 (The future we want5) destaca em um de seus artigos (101) relacionado à Educação exatamente isso:

We agree to promote education for sustainable development beyond the end of the United Nations Decade of Education for Sustainable Development in 2014, to educate a new generation of students in the values, key disciplines and holistic, cross-disciplinary approaches essential to promoting sustainable development.

Vale lembrar que essas mudanças (que não são poucas ou simples)  dependem tanto de vontade política quanto da vontade dos professores e da comunidade onde vivem.

Apesar de todas as incertezas e resistências, sou otimista, e acredito que estamos, sim, passando por um período de reavaliação rumo às mudanças necessárias na Educação para sociedades sustentáveis. Poder viver e participar ativamente desse momento de reflexão e reconstrução é um privilégio e um dever de todos nós. Um dos bons exemplos disso é a forma democrática e dialógica com que as decisões para o novo Plano Decenal de Educação do Estado de Minhas Gerais (PDEEMG)3 têm sido tomadas. Aconselho a leitura da apresentação.

Educar para decidir melhor

No último sábado (14-04), durante o lançamento de um livro sobre educação e comunicação na escola, ouvi Gilberto Dimenstein afirmar que “uma coisa que todos fazemos durante toda a vida é tomar decisões”.

Decisões (conscientes), grosso modo, são tomadas pela mobilização de diferentes habilidades (como observação, comparação, análise, dedução, etc.) em conjunto com a seleção de diferentes informações e experiências. Acredito que a escola seja o primeiro e um dos principais ambientes formais onde tais processos deveriam ser desenvolvidos e aprimorados para a vida.

Como será que a escola tem contribuído para que as pessoas tomem decisões melhores, mais conscientes e pautadas no bem-estar comum e do planeta, característica vital em uma sociedade sustentável?

Para essa reflexão em específico, sugiro a leitura do livro “Nudge: o empurrão para a escolha certa 4”, que coloca um contraponto interessante ao poder da Educação.

Para finalizar, gostaria de compartilhar uma frase que ouvi recentemente no I Fórum de Educação para a Sustentabilidade dita pelo Professor Ladislaw Dowbor, que na minha opinião resume de forma primorosa o papel contemporâneo da Educação:

“A Educação deve ser uma forma de introdução ao mundo em constante transformação”.

Referências

1 http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf
2
http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001899/189923por.pdf
3
http://www.almg.gov.br/opencms/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/planoEducacao/docs/joao_filocre.ppt
4
Thaler, R. H. & Sunstein, C. R. Nudge: o empurrão para a escolha certa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
5
http://rebal21.ning.com/profiles/blogs/nova-versao-do-documento-zero-draft-para-a-rio-20

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.

Portal Aprendiz agora é Educação & Território.

×