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O Centro Educativo Unificado (CEU) Vila do Sol, localizado no Jardim Vera Cruz, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, tem uma história bastante singular. Em 2006, moradores da região fizeram um levantamento e perceberam que 5.623 crianças do local não estavam matriculadas em nenhuma instituição de ensino. Arregaçaram as mangas e com um abaixo-assinado de mais de dez mil assinaturas e, por meio de uma ação civil pública, conquistaram a construção do CEU junto à prefeitura, que hoje atende 1.764 alunos e conta com 93 educadores.

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Maria dos Anjos Pires, ou simplesmente Dona Maria, liderança comunitária da região, relata que a construção foi uma conquista importante para o bairro, mas muito ainda deve ser feito. “Ainda continuamos com um déficit grande de vagas na região, mesmo com o CEU, que acaba até atendendo crianças de outros bairros. Queremos uma educação de qualidade.. Quero ver as crianças indo para faculdade”, declarou Dona Maria que, aos 59 anos, continua batalhando para mudar a realidade de onde vive.

O nascimento democrático e popular do centro educacional contrasta, no entanto, com a história de suas gestões. “O [Fernando] Haddad falou em abrir os CEUs para a comunidade e até agora aqui a coisa está só no papel”, protesta Roberto Otaviano, morador do Vera Cruz, membro da Rede Juventude, Criança e Adolescente (Rede JUCA) e professor de teatro.

Dona Maria também demonstra certa frustração. “Queremos uma gestão forte, que traga crianças pra dentro do CEU, que faça projetos. Eu luto muito para trazer um futuro melhor para nossas crianças. Se não tiver uma educação de qualidade não adianta nada.”  Recentemente, a gestora Vera Ângelo foi empossada, após duas gestões que desagradaram a comunidade, uma inclusive retirada por pressão popular. No entanto, a comunidade continua se queixando de receber mais “não” do que “sim”.

“Estávamos ansiosos por meses, queríamos que houvesse um chamado para uma conversa, queremos isso, aquilo, acreditamos na comunidade. Os “não” já estão preparados para dizer. Queremos que eles abracem todas essas causas, mas falta vontade”, pontua Otaviano, que reforça sua vontade de que este CEU seja uma referência para a comunidade. “É um espaço de inovações, as pessoas têm que ser surpreendidas.”

Outro exemplo

“O CEU tem que sempre ter como resposta o ‘sim’. Se alguém chega com uma proposta, temos que ver como viabilizá-la junto ao proponente”, afirma Diná Ramos, 38, educadora e  coordenadora do núcleo de esportes e lazer do CEU Butantã. Ela ressalta que a primeira medida da nova gestão foi justamente chamar lideranças comunitárias, movimentos sociais, conselhos tutelares, usuários, associações de moradores para apresentar a nova equipe, gestores e o projeto para a unidade.

“Surgiram muitas demandas, mas não temos que atendê-las, temos que construí-las. Não queremos fazer nada ‘para’ a comunidade, queremos fazer tudo ‘com’ a comunidade.  Estamos discutindo muito a importância de uma gestão democrática”, relata Diná.

A tônica no centro educativo do Jardim Ângela não parece ser essa. Durante audiência realizada pela subprefeitura de M’boi Mirim, em 25/5, com os jovens do fundão do Jardim Ângela, muitos reclamaram a construção de uma pista de skate e queriam mais voz na condução do CEU. O subprefeito de M’boi Mirim, Antonio Carlos Dias de Oliveira, contestou que a gestão havia acabado de mudar e que, após muitos anos de administração de Gilberto Kassab (PSD), ainda necessitavam de tempo para operar transformações.

Um grupo de jovens skatistas tem se organizado para participar das reuniões e reivindicar melhores condições de segurança. “Eles são assaltados, correm riscos nas ruas e até assédio da polícia. Os jovens só querem que o CEU se abra para a necessidade deles, que acolha suas sugestões que já vem de longa data”, diz Otaviano.

Acsas Lohane, 17, afirma que tem gostado da experiência de participar das reuniões do conselho gestor, “mas pra falar não só do skate, mas também sobre educação, sobre melhorias no CEU, também sobre os problemas do nosso bairro. Antes vivíamos de braços cruzados, agora podemos falar o que pensamos e o que queremos.”

Reclamações também dão conta da dificuldade de acesso à biblioteca, do fechamento de espaços durante os finais de semana e da falta de projetos capazes de atrair a comunidade para que ela se sinta parte daquele espaço. “Qualquer um pode ser educador, desde o porteiro até o vigia, a comunidade. Não precisa brigar, a gente conversa. O povo cuida do que é seu”, pondera Dona Maria.



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