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publicado dia 9 de outubro de 2013

Ocupar a Cidade pela Educação

Ontem (8/10) as duas maiores cidades do país tiveram suas ruas ocupadas por milhares de pessoas, com diversas causas e motivações, mas os principais gritos continham a palavra “educação”. O acúmulo de insatisfações em relação à situação da educação, do transporte público, da saúde, a violência policial, desigualdade social, ausência de espaços democráticos na construção das políticas, vem levando desde junho as pessoas às ruas. Muitos pensaram que a mobilização estaria se esvaziando depois da conquista histórica da redução das tarifas do transporte público no país todo. Mas, ontem, ficou claro que não.

Mais uma vez, assim como aconteceu em junho, foi a violência policial que fortaleceu o movimento. No dia 1º de outubro, os profissionais de educação do Rio de Janeiro, em greve há dois meses, foram violentamente reprimidos na Cinelândia, quando pressionavam a Câmara dos Vereadores a vetar o plano de carreira proposto pelo prefeito. Naquele dia, a Câmara foi cercada por grades e uma cortina de gás lacrimogêneo para garantir que a votação acontecesse sem interferência popular. O episódio evidenciou o conflito: a ausência de canais satisfatórios de diálogo e negociação, uma lei elaborada sem discussão e aprovada com a necessidade de aparato militar, em plena vigência do Estado democrático de direito.

Como tem acontecido nas manifestações dos últimos anos nas diversas cidades do país, os grupos mobilizados ontem não eram uma causa única. Também estavam lá os indígenas que lutam por seus direitos e fizeram uma fogueira na praça da Cinelândia pela Universidade Livre Indígena. Em São Paulo, aos que foram ao centro da cidade apoiar os professores do Rio, juntaram-se os estudantes da Universidade de São Paulo, que estão mobilizados pela democratização do processo de eleição do seu reitor. Enfim, diversas causas em torno do tema da educação.

No final do mês passado, aconteceu um seminário internacional em Belo Horizonte que deu várias pistas para pensar as conexões entre as manifestações das ruas, a educação e a pauta da participação. Com o sugestivo nome de “Ocupar a Cidade – Educação integral em movimento”. Foi organizado pelo TEIA – Territórios, Educação Integral e Cidadania – núcleo de ensino e extensão da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. A proposta do seminário teve como eixo das discussões o tema da cidade entendida como experiência educativa, pois, como dizia sua apresentação “não há como pensar uma educação integral desvinculada da participação social, alheia às questões vividas na cidade, no bairro, nos vários territórios que compõem o entorno da escola”. Durante o Seminário, encontraram-se gestores públicos, pesquisadores, educadores, urbanistas, ativistas de movimentos estudantis, políticos e culturais, de diversos países da América Latina, além dos diferentes contextos brasileiros.

Pouco frequente (ou seria inédito?) entre eventos de educação no país, este encontro de atores diversos possibilitou avançar em reflexões sobre as múltiplas dimensões educativas da cidade, das transformações empreendidas no campo da educação quando novos atores entram em cena. Militantes do movimento estudantil ensinaram educadores sobre as complexas questões envolvidas na política de transportes urbanos; jovens mostraram aos adultos como intervenções criativas no espaço público podem transformar as relações das pessoas com seus territórios; urbanistas questionaram gestores públicos sobre a redução do escopo educativo à escola, mostrando que a cidade também pode ser educadora quando há vontade política; pesquisadores provocaram todos a pensar tanto a escola como a cidade como construções sociais, algo que inventamos e podemos transformar; lideranças compartilharam com estudantes universitários as experiências educativas e de produção de conhecimento de comunidades indígenas, quilombolas e das “quebradas”; educadores mostraram como muitas escolas vêm se tornando pontes com suas comunidades e a cidade.

O encontro em Belo Horizonte mostrou, enfim, muitos caminhos possíveis para as demandas de educação que estão sendo expressas nas ruas nos últimos dias: os caminhos para transformar as escolas e as cidades em espaços participativos, democráticos e intencionalmente educativos. Vamos torcer para que as pessoas mobilizadas pela educação que agora se manifestam nas ruas consigam avançar no sentido de fortalecer as muitas iniciativas de pessoas, organizações e políticas que já estão transformando a educação e as cidades no país hoje.

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