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publicado dia 13 de janeiro de 2014

“Se o parque virar prédio, a rua vira parque”

No dia 23 de dezembro, o prefeito Fernando Haddad sancionou o projeto de lei que garante a construção do Parque Augusta, na última área verde permeável do centro de São Paulo. De lá para cá, o terreno do parque, que ainda precisaria ser desapropriado pela prefeitura, foi fechado pelas incorporadoras Setin e Cyrella, que detêm a posse do terreno e planejam a construção de três torres em 40% da área e a criação de um parque de gestão privada.

Para protestar contra o fechamento do acesso da área verde, garantido por lei e por uma cláusula pétrea no contrato de posse do terreno, ativistas que pedem a criação do Parque Augusta, de forma auto-gestionada e em toda área do terreno, realizaram uma atividade do lado de fora dos muros, sob o lema “Se o parque virar prédio, a rua vira parque”. Cerca de 100 pessoas resistiram às fortes chuvas para realizar uma aula pública e discutir o que se quer daquele terreno.

“O fechamento da área do parque é ilegal”, afirma Ana Dulce, 80, professora aposentada e moradora da região, que não perde uma das mobilizações pelo parque. “É bonito ver essa gente jovem, que se mobiliza para que esse espaço fique verde e livre”, afirma, sentada em sua cadeirinha de sol em plena rua Augusta, logo após uma aula pública com Miguel Rodriguez, do coletivo espanhol Basurama, que participa da auto-gestão do Campo de Cebada, em Madri.

Rede de parques

Na zona central de Madri, capital da Espanha, um complexo esportivo com piscina foi fechado para reformas. Antes que elas pudessem começar, chegou a crise financeira e esvaziou os caixas da prefeitura. O espaço ficou vazio, mas não por muito tempo. O coletivo Basurama, em aliança com associações de moradores e demais coletivos e indivíduos da região, começou a realizar atividades no local e conseguiu a cessão de uso do Campo de Cebada até que a prefeitura tenha dinheiro para reformá-la.

“Conseguimos a chave do local para a realização de uma atividade da Noite Branca [uma espécie de Virada Cultural espanhola] e nunca mais saímos. Todas as atividades se estendem pela semana e qualquer pessoa pode participar das assembleias e ajudar a manter o parque, ou propor atividades, desde que seja sem fim lucrativo”, relata Rodriguez, durante sua fala na aula pública na rua Augusta.

Para o ativista espanhol, a situação é parecida. “Aqui a prefeitura diz que não tem dinheiro, então porque não incentivar a autogestão? O que esses espaços propõe é uma nova forma dos cidadãos participarem da gestão dos espaços públicos”, analisa.

Parque de quem?

A Secretaria do Verde, responsável pela criação do parque, alega não ter dinheiro para a desapropriação. O valor venal do terreno, de 25 mil m², está na casa dos R$ 75 milhões, enquanto os ativistas afirmam que os donos pedem um valor muito acima do que é praticado no mercado.

Em busca de alternativas, alguns defendem a expropriação da área, que está em disputa desde 2010. “Não queremos que vire uma coisa fechada, com horário, um quintal de playboy, com torres gigantes em volta”, afirma Paula Chiaretti, 22, ativista pela autogestão do Parque Augusta. “As empreiteiras devem impostos, assim como o IPTU do terreno está atrasado. A criação do Parque poderia sair do papel”, protesta.

Além disso, diversas atividades de cultura – como cursos gratuitos de tai chi chuan e yoga – e a própria zeladoria – com a construção de uma horta urbana – vinham sendo mantidas no espaço, agora fechado. Paula é uma das responsáveis pela Escola Livre, iniciativa de educação organizada para promover aulas públicas, debates e cursos de formação que visem “a autonomia e a liberdade” dentro da mata do parque.

Para a retomada das atividades, eles aguardam uma liminar que deve ser julgada até quarta-feira (15/1),  que pode decidir pela reabertura do acesso ao terreno.

Também existem temores de que maquinário pesado possa entrar no terreno para iniciar os trabalhos de construção. “Nós tememos que isso seja o primeiro passo. Eles dizem que vão garantir o parque e depois acabamos ficando sem nada”, preocupa-se Paula.

Quem quiser acompanhar pode acessar a página do Parque Augusta, que divulga os eventos e a localização e horário das assembleias semanais, que acontecem toda quarta-feira. Também está sendo promovida uma consulta online que pergunta “Qual o seu desejo para o Parque Augusta?”.

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